Entre agosto e setembro de 2024, o Home Office do Reino Unido organizou pelo menos três voos charter para deportar mais de 600 brasileiros — incluindo 109 crianças — de volta ao Brasil. Esses voos foram classificados oficialmente como “retornos voluntários”, mas organizações de direitos humanos afirmam que muitos dos deportados foram pressionados a embarcar sem compreender totalmente suas opções legais. Os voos partiram dos aeroportos de Stansted e Birmingham. Documentos internos do governo e relatos de advogados apontam que os passageiros incluíam famílias com crianças nas escolas, trabalhadores empregados regularmente e mulheres vítimas de violência doméstica.

A ONG Latin American Women's Rights Service (LAWRS) afirmou que muitas mulheres foram orientadas por assistentes sociais e órgãos públicos a deixar o Reino Unido sem receber aconselhamento jurídico completo. Algumas estavam em relacionamentos abusivos e temiam perder a guarda dos filhos. Um advogado de imigração descreveu o processo como “voluntariedade sob coação”, onde o medo de uma deportação forçada leva as famílias a aceitar o retorno “voluntário” como única saída viável.

Muitas das crianças deportadas nasceram no Reino Unido ou viviam há anos no país. Havia casos de adolescentes matriculados em escolas britânicas desde a infância. Apesar disso, o Home Office não forneceu estatísticas claras sobre o impacto dessas deportações em menores de idade. Pais relatam que foram notificados com pouco tempo para se preparar. Alguns foram informados de que, se não embarcassem voluntariamente, seriam detidos e removidos à força.

Os voos não foram anunciados publicamente. Advogados e ativistas descobriram sua existência apenas após os embarques, com base em relatos de clientes e documentos internos. Segundo o jornal The Guardian, esses voos fazem parte de uma política mais ampla de remoções rápidas de migrantes latino-americanos, implementada discretamente.

Nas redes sociais e fóruns como o Reddit, brasileiros relataram aumento do medo e confusão em relação ao status migratório. Muitos expressaram indignação com o fato de famílias estabelecidas estarem sendo removidas sem um processo legal transparente ou tempo adequado para contestar a decisão.

As deportações em massa de brasileiros revelam um padrão de política imigratória cada vez mais dura e opaca no Reino Unido. Embora oficialmente classificadas como “voluntárias”, os relatos indicam que muitas famílias aceitaram o retorno sob coação, desinformação e desespero.